terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Fados de Natal

E quase a terminar o nosso dia de Natal que espero que tenha corrido bem para todos, nada melhor do que recordar os grandes fados de Natal cantado por os grandes fadistas.


César Morgado - Árvore de Natal ( Poema: Tito Rocha/ Música: Popular "Fado Menor")
 Amália Rodrigues - Vi o Menino Jesus ( Poema: Amália Rodrigues/ Música: Carlos Gonçalves)
Fernando Farinha - É Natal ( Poema: Fernando Farinha/ Música: Artur Ribeiro)
 Amália Rodrigues - Natal dos Simples ( Poema: José Afonso/ Música: José Afonso)
 Carlos Ramos - Noite de Natal ( Poema: José de Freitas/ Música: Miguel Ramos)


segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Manuel de Almeida cantando o Fado Antigo

 
 
 
 
Letra: Manuel de Almeida / Música: Popular (Fado Corrido)
Meu velho fado corrido
Se foste dos mais bairristas
Porque te mostras esquecido
Na garganta dos fadistas

Explicou-me um velho amigo
Como o fado era tratado
Tinha graça o fado antigo 
 Da forma que era cantado

Um ramo de loiro à porta 
 Indicava uma taberna
À noite era uma lanterna 
 Com sua luz quase morta

Sobre os cascos da vinhaça 
 Deitada em forma bizarra
Estava sempre uma guitarra
Para servir de negaça;O canjirão da murraça 
 De tosco barro vidrado
Andava sempre colado 
 Aos copos, pelo balcão
E era assim nesta função
Como o fado era cantado

Se aparecia um tocador
 Às vezes até zaranza
Pedia ao tasqueiro a banza 
 Para mostrar seu valor;
Logo havia um cantador 
 Dando um tom de certo perigo
Provocava o inimigo
No cantar à desgarrada
Até às vezes, com lambada 
 Tinha graça o fado antigo

Pouco tempo decorrido
Cheia a taberna se via
P’ra escutar a cantoria 
 Ao som do fado corrido;
Todos prestavam sentido 
 Quando alguém cantava o fado
O tocar era arrastado 
 O estilo dava a garganta
Hoje pouca gente o canta 
 Da forma que era cantado

Escutei com atenção 
 Um cantador do passado
E a sua linda canção 
 Prendeu-me p’ra sempre, ao fado

Por muito que se disser 
 O fado é canção bairrista
Não é fadista quem quer 
 Mas sim quem nasceu fadista

domingo, 23 de dezembro de 2012

Amália Rodrigues ao vivo na RTP em 1969

 
 
Amália Rodrigues ao vivo na RTP em 1969
 
 
1 - Olhos Fechados ( Música: Armando Góis/ Letra: Pedro Homem de Mello)
2 - Caracóis ( Música: Popular/ Letra: Popular)
3 - Meu Limão de Amargura ( Música: Alain Oulman/ Letra: José Carlos Ary dos Santos)
4 - Maria Lisboa ( Música: Alain Oulman/ Letra: David-Mourão Ferreira)
5 - Gaivota ( Música: Alain Oulman/ Letra: Alexandre O´Neill)
6 - Formiga Bossa Nova ( Música: Alain Oulman/ Letra: Alexandre O´Neill)
7 - As Mãos que Trago ( Música: Alain Oulman/ Letra: Cecília Meireles)
8 - Vou Dar de Beber á Dor  ( Música: Alberto Janes/ Letra: Alberto Janes)
9 - Cravos de Papel ( Música: Alain Oulman/ Letra: António de Sousa)
10 - Cuidei Que Tinha Morrido ( Música: Alain Oulman/ Letra: Pedro Homem de Mello)
11 - Viuvinha ( Música: Alain Oulman/ Letra: Popular)
12 - Havemos de ir a Viana ( Música: Alain Oulman/ Letra: Pedro Homem de Mello)
 

Uma vida com o fado: Biografia de Alfredo Marceneiro




Alfredo Rodrigo Duarte era o seu nome inteiro, mas conhecido por Alfredo Marceneiro, foi uma das maiores referências do que é o nosso fado. Nasceu a 25 de Fevereiro de 1891, na Freguesia de Santa Isabel. De pequeno ouviu sua Mãe cantarolar, o seu Pai pertencer a banda do Cadaval e o seu Avô materno tocar guitarra, daí o seu grande gosto pela música.
Aos seus 13 anos de idade, tem que abandonar os estudos e começar a trabalhar, devido ao falecimento de seu Pai.
Alfredo tinha um grande gosto pela representação, seguindo atentamente as cegadas, e foi a partir dessa altura que teve contacto com o meio fadista.

Conheceu Julio Janota, fadista improvisador, que era marceneiro de profissão e logo aconselhou o jovem Alfredo Duarte a seguir aquele trabalho, arrajando-lhe colocação como aprendiz.



Estreou-se aos 17 anos numa cegada corria o ano de 1908 e é num baile popular que se inicia a cantar fado, ficando logo o seu nome presente, por entre a rapaziada.
Alfredo Marceneiro aos 17 anos de Idade.


Na Cegada " A Luz e Sapiência " de Henrique Rêgo, Alfredo destaca-a como a que lhe deu mais glória de todas as cegadas. Até aos seus ultimos momentos de vida era capaz de referir todas as falas, que tinha nesta cegada.
A primeira vez que assistiu ao fado foi na Rua do Poço dos Negros, no beco do Carrasco, onde ouviu cantar, fadistas de nome daquela geração.
Mas é no «14» do Largo do Rato, antiga casa de jogo transformada em «cabaret» quando os jogos de azar foram proibidos, que o jovem Alfredo, com cerca de 20 anos, começou a ser mais conhecido no meio fadista, sendo frequentemente convidado a cantar alguns fados, cujos versos ele mesmo improvisava.
Aqui conheceu poetas e fadistas de nomeada daquela época, como Britinho Estucador, Soares do Intendente, Júlio Proença Estofador, João Mulato, Chico Viana, Jorge Caldeireiro, Fernando Teles, e tantos outros, que não tardaram em ver no jovem Alfredo um verdadeiro fadista. Como manifestação desse reconhecimento,
começaram a dar-lhe algumas das suas criações poéticas para que ele as cantasse.





Percurso Artistíco de Alfredo Marceneiro

Durante a sua vida Alfredo Marceneiro venceu 2 medalhas nos concursos fadistas.
A primeira vez foi em 1924 onde todos os grandes fadistas da época participaram, onde Alfredo conquistou o troféu que mais se orgulha na vida," a Medalha de Ouro".
Cantou o tema " O Remorso" com Letra de Linhares de Barbosa
Batem-me à porta, quem é?
Ninguém responde... que medo...
que eu tenho de abrir a porta.
Deu meia-noite na Sé.
Quem virá tanto em segredo
Acordar-me a hora morta?


Batem de novo, meu Deus!
Quem é, tem pressa de entrar,
E eu sem luz, nada se vê
A Lua fugiu dos Céus
Nem uma estrela a brilhar
Batem-me à porta, quem é?...


Quem é?... quem é?... que pretende?...
Não abro a porta a ninguém...
Não abro a porta ´inda é cedo...
Talvez seja algum doente
ou um fantasma, porém
ninguém responde... que medo.



Será o fantasma dela
da que matei. Não o creio!...
A vida, a morte que importa.
Se espreitasse pela janela,
Jesus! Jesus! que receio
que eu tenho de abrir a porta.


Feia Noite de Natal.
A esta hora o Deus Menino
Já nasceu na Nazaré.
Não há perdão para meu mal
Calou-se o Galo. E o sino
deu meia-noite na Sé.


Continuam a bater
Decerto que é a Justiça
P´ra conduzir-me ao degredo
Matei, tenho de morrer
Oh! minha alma assustadiça
Quem virá tanto em segredo?


Seja quem for, é um esforço
Vou-me entregar que tormento
Que me vence e desconforta.
- Ninguém bateu! Oh! remorso
Não é ninguém! É o vento
Acordar-me a hora morta.


Em 1929 ganha a Taça de Prata, na Festa de Homenagem ao Poeta Frederico de Brito


 







Em 1930, consegue o 2º lugar no Concurso ao titulo de Marialva, organizado no Retiro da Severa.


Troféu do 2º lugar no Titulo de Marialva, organizado no Retiro da Severa.

Ainda em 1930 participa numa Opereta levada à cena no Coliseu, intitulada "HISTÓRIA DO FADO", de parceria com a Beatriz Costa e Vasco Santana.

Em 1933 no Musical Cine-Parque do Júlio das Farturas, no Parque Mayer, organizam-lhe uma Festa Artística.

Em 1940 entra, como figurante, a cantar no filme de António Lopes Ribeiro, "Feitiço do Império", com Ribeirinho e António Vilar.

Em 1941 no Solar d'Alegria, o empresário José Miguel organiza um espectáculo intitulado: "Festa Artistica de Alfredo Marceneiro"



Para engrandecer o espectáculo e homenagear Alfredo Marceneiro, levam à cena um "ensaio poético" da autoria de Henrique Rêgo, com o título "ALFREDO FADISTA DA ACTUALIDADE", em que ele contracena com Leonilde Gouveia no papel de Severa e Manuel Calisto no papel de Conde do Vimioso.

Nesta festa que foi dirigida por Filipe Pinto, actuaram muitos cantadores e cantadeiras de relevo na época. Alfredo, de entre os seus fados, um houve, com música do Fado Cravo, de sua autoria, e com letra do Dr. Guilherme Pereira da Rosa (Director do Jornal O Século), que ficou, também, na memória de todos como uma das suas grandes criações: "Viela".

 
Alfredo Marceneiro a cantar ao vivo  o tema " A Viela" em 1978 num Programa da RTP, dirigido por João Ferreira Rosa.

 Fui de Viela em Viela
Numa delas dei com ela
E quedei-me enfeitaçado
Sob a luz de um Candeeiro
Estava ali o fado inteiro
Pois toda ela era fado

Arvorei um ar gingão
Um certo ar fadistão
Que qualquer homem assume
Pois confesso que aguardei
Quando por ela passei
O convite do costume.

Em vez disso no entanto
No seu rosto só vi pranto
Só vi desgosto e descrença
Fui me embora amargurado
Era fado, mas o fado
Não é sempre o que se pensa.

Ainda recordo agora
A visão, que ao ir-me embora
Guardei da Mulher perdida
Na pena que me desgarra
Só me lembra uma guitarra
A chorar penas da vida


Profissionalização do Fado


Em 1943, após uma greve geral em que todos os estaleiros aderiram e Alfredo Marceneiro também e onde sairam presos os seus dois filhos Carlos e Alfredo também trabalhadores nos estaleiros, pediu demissão e passou a viver do Fado.

Mas de inicio não foi nada fácil para Alfredo, apesar da popularidade que Alfredo tinha, deu-se o aparecimento das Casas de Fado e com a crise económica que se vivia devido a 2ª Guerra Mundial.

Entretanto anos mais tarde, Alfredo Marceneiro com o seu filho Rodrigo Duarte, abrem o Solar do Marceneiro, que apesar do imenso êxito que teve não durou muito visto que Alfredo Marceneiro, não gostava de cantar por obrigação e era um artista presente em todas as casas de fado.



Alfredo Marceneiro com os seus filhos Rodrigo Duarte á direita e Alfredo Duarte Jr á esquerda na sua casa de fados, o Solar do Marceneiro.


O Bairro Alto passou a ser uma zona com muitas casas tipicas como a Adega da Lucilia do Carmo mais tarde designado de " O Faia".  A adega Mesquita, de Domingos Mesquita e a mulher "Ti Adelina", a Severa de José Barros e Maria José e o Solar da Herminia.
Em todas elas Alfredo Marceneiro deu noites que jamais serão esquecidas pelos outros fadistas e pelo publico que o assistiu durante anos e anos.
Entretanto Lisboa não pára e, noutros locais da cidade, abrem outras casas de fado que fizeram parte do roteiro de Alfredo Marceneiro, tais como a Viela com a Celeste Rodrigues e mais tarde com Sérgio, A Márcia Condessa, a Parreirinha de Alfama de Argentina Santos, A Cesária, O Timpanas da familia Forjaz, etc.

Foi consagrado Rei do Fado no Café Luso, numa festa organizada por Filipe Pinto, nesse evento ficou uma placa de mármore para assinalar a sua consagração.
Este espectáculo contou com a participação de grandes intérpretes do fado, Amália Rodrigues, Berta Cardoso, Fernanda Baptista, Hermínia Silva, Lucília do Carmo, Carlos Ramos, Filipe Pinto e Júlio Proença, além da presença de muitos guitarristas, cançonetistas, artistas de teatro, artistas plásticos, jornalistas e personalidades de relevo da época.
Alfredo Marceneiro cantou fados de sua criação e este espectáculo ficou guardado na memória de todos aqueles que nele colaboraram e a ele assistiram.


Alfredo Marceneiro no Café Luso.

Aposentação de Alfredo Marceneiro 
Quando da sua reforma em 1963, foi-lhe concedido o complemento à pensão de "mérito artístico", por proposta do Sindicato de Artistas de Variedades. Como é de calcular uma parca quantia.
Um grupo de amigos e admiradores, quando este se reforma, decidem fazer-lhe uma Homenagem a 25 de Maio de 1963, no Teatro S. Luiz:
 
A MADRUGADA DO FADO
Consagração e Despedida do Grande Artista
ALFREDO DUARTE MARCENEIRO
 
 
Que o Fado está na História do nosso Povo já ninguém o nega e Alfredo Marceneiro ficará para sempre a esta ligado, como previu Norberto de Araújo, quando sobre ele escreveu:
"O FADO TEM TIDO MUITAS MULHERES, ALGUMAS, MESMO, HEROÍNAS DA CANÇÃO DOLENTE E BONITA. HOMENS - SÒ UM:
ALFREDO MARCENEIRO. LIGOU O PASSADO AO PRESENTE, E COM A SUA ALMA ERRANTE, LUMINOSA E INGÉNUA, COLOCOU O FADO NUM PLANO DE "AUTO DO POVO", QUE FICARÁ NA HISTÓRIA DO NOSSO TEMPO."
 
Nesta Madrugada de Fado, que começou a partir da meia-noite e que durou até ao amanhecer, colaboraram muitos artistas seus amigos e admiradores, do fado e do teatro.
Guitarristas:
Raul Nery, Fontes Rocha, Francisco Carvalhinho, Acácio Gomes, Pais da Silva, João Bagão, e Dr. António Toscano;
Violas:
Armando Machado, Joel Pina, Júlio Gomes, Joaquim do Vale, Vitor Ramos, José Inácio, Fernando Alvim, João Gomes, Miguel Ramos;
Cantaram fados:
Adelina Ramos, Alberto Costa, Alfredo Duarte Júnior, António dos Santos,, Argentina Santos, António Melo Correia, Berta Cardoso, Carlos Ramos, Deolinda Rodrigues, Estela Alves, Fernanda Maria, Fernanda Peres, Fernando Farinha, Filipe Pinto, Flora Pereira, Hermínia Silva, Isabel de Oliveira, João Ferreria Rosa, Lucília do Carmo, Manuel Fernandes, Maria Albertina, Maria Amorim, Maria de Lourdes Machado, Maria Teresa de Noronha, Max, Mercês da Cunha Rêgo, Natércia da Conceição, Dr. Paradela de Oliveira Paula Valpassos, Sérgio, Teresa Tarouca, Vicente da Câmara e o homenageado ALFREDO MARCENEIRO;

Actores:
Henrique Santana, José de Castro, Humberto Madeira, Paulo Renato, Raúl Solnado, Varela Silva.
Com música de Frederico Valério e letra de Guilherme Pereira da Rosa, é-lhe dedicado o poema que foi cantado por Fernanda Maria:

ESTE NOSSO FADO
O Fado
Fado nascido em Lisboa,
É voz de pena que soa,
Mágoa do peito vem...
O Fado
É Bairro velho que chora
Alfama que se enamora
E conta o amor que tem...
O Fado
É canto de Feiticeiro;
É Alfredo Marceneiro;
É um dom, uma expressão...
E é Fado
Guitarra que nos murmura
Tudo aquilo que perdura
Bem dentro do coração...
Ao Fado
Lisboa diz o que sente,
Vai nele a alma da gente,
Pois é esse o seu condão!
O Fado
Fado que invade a cidade,
É nostalgia, saudade,
Mal e Bem, Sorte e Azar...
O Fado
É rumo de caravelas...
E somos nós e são elas
Que andamos a namorar...

O Fado
É modo da nossa gente;
O passado e o presente,
O porvir - esse também...
Pois Fado
É este jeito, esta briga,
De chorar numa cantiga
Um amor, tudo - e ninguém...
E é Fado
Aquele encanto profundo
Que vai daqui pelo mundo
E que ao mundo soa bem!

O poeta Silva Tavares, também em sua homenagem, relembrando o êxito que teve o seu poema cantado por Marceneiro "A Casa da Mariquinhas", dedica-lhe um fado com o título:

50 ANOS DEPOIS
A casa da Mariquinhas
perdeu metade da graça,
- tiraram-lhe as tabuinhas
e, da guitarra, nem raça.
O fado, canção dorida,
já lá não tem "cabidela",
e já nenhuma atrevida
chama por nós da janela.
Grotescos, hirtos, parranos,
nas paredes do salão,
em vez de quadros maganos
há retratos a carvão.

Vive lá hoje um casal
e ela, a mulher, é bem bela!
Mas ele é que, por seu mal,
podia ser avô dela.
Vistosa, muito garrida,
sem domínio nem conselho,
passa metade da vida
entre a janela e o espelho.
E há razões para temer
ao que rosnam as vizinhas,
que a casa inda torna a ser
A casa da Mariquinhas
 
Para bem de todos os grandes amantes do fado, esta noite foi registada num Cd Inédito que tem o nome da festa de homenagem a Alfredo Marceneiro. Dentro deste cd, ouve-se as calorosas palmas de um publico que encheu o Teatro São Luis nessa madrugada para assistir a uma noite que ficará para sempre recordada na História do Fado.
 
Disco Inédito da noite de 25 de Maio de 1963, no Teatro São Luis designada pela Madrugada do Fado a Homenagem a Alfredo Marceneiro.
 
Atuação de Alfredo Marceneiro nessa homenagem a sua Carreira Artistica.
 
Felizmente para todos os seus seguidores, amigos e admiradores, não foi uma despedida, ainda, durante quase duas décadas continuou a deliciar-nos, cantando os seus fados com aquele estilo inesquecível. Muitos dos seus amigos diziam com carinho "Ti Alfredo" é como o Vinho do Porto, quanto mais velho melhor.

Até ao roçar dos noventa anos de idade, Alfredo Marceneiro manteve-se uma figura da noite lisboeta.
Quando o sol desaparecia no horizonte e os candeeiros já iluminavam a cidade, Alfredo Marceneiro saía tranquilamente de sua casa, envolvendo-se na noite, na magia da noite que envolve Lisboa como um véu de mistério. Sim, era na noite que ele aparecia. Era na noite que ele vivia o mundo onde ganhou fama e glória. A sua ronda nocturna, de todos os dias, pelas casas típicas, era talvez uma necessidade de se sentir estimado e acarinhado. Quando o ambiente era propício e havia muitas insistências, cantava. O Fado era, afinal, a sua vida inteira.
Ao fim da noite, Marceneiro abandonava os retiros de fado e regressava, satisfeito, para junto da sua querida "Tia Judite"...
Além dos netos Vitor e Valdemar que o acompanhavam assiduamente, muitos dos seus amigos o iam buscar a casa, transformando-se em parceiros das suas longas deambulações nocturnas, principalmente a partir dos seus setenta anos. Destes destaca-se o seu amigo, José Pargana que foi um exímio caricaturista como se pode verificar nas reproduções aqui impressas.
Também, durante os últimos anos da sua vida, foi seu grande companheiro o fotógrafo Leonel Lourenço. Grande artista na sua arte, algumas das fotos de Marceneiro aqui reproduzidas são da sua autoria. Leonel Lourenço mantém relações de amizade muito estreitas com o seu neto Vitor Duarte e aceita o convite deste para ser padrinho de baptismo de seu filho, sétimo bisneto de Marceneiro, a quem, em sua honra, foi posto o nome de Alfredo Rodrigo Duarte. Para o "Ti Alfredo" e como para a "Ti Judite", o Leonel Lourenço era como um filho.
Também o jovem José Pracana, por quem "Ti Alfredo" tem muito carinho, recíproco, o vai buscar a casa para o levar para o "Arreda" em Cascais, deliciando-se em ouvi-lo cantar e em especial com as suas análises e ditos oportunos. José Pracana, que canta e também toca guitarra, num estilo em que se nota influências do grande guitarrista José Nunes, fazia questão em acompanhá-lo à guitarra e quando Marceneiro estava renitente para cantar, ele conseguia dar-lhe a "volta". "Ti Alfredo" dizia muitas vezes " o Pracana é como se fosse meu neto".
O José Pracana imita-o muito bem a cantar, quer nos requebres de voz, quer nos gestos e Alfredo Marceneiro, que não gostava nada que o imitassem na sua presença, no caso do Pracana, ele próprio muitas vezes lhe solicitava que o fizésse. Era então vê-lo rir com prazer, pois sentia que tal lhe era dedicado como homenagem e, acima de tudo, feito com muito carinho.
De entre os seus muitos amigos, um há que, apesar de não ser um "companheiro assíduo de fadistices", sempre teve uma presença muito especial na sua vida. Refiro-me a Julio Vidigal Amaro "o Juleca", decerto o seu maior amigo, ficando esta biografia incompleta se o seu nome não fosse referido.
 
 
A morte de Alfredo Marceneiro
 
Com 91 anos, morria na casa onde nasceu, pelas 7 horas da manhã do dia 26 de Junho de 1982, o grande Alfredo Marceneiro deixando em sua vida, Familiares e amigos e deixando em todos os fadistas e amantes do fado, as suas noites gloriosas em que deixou qualquer pessoa que o escutava a cantar,  rendido com tamanha interpretação.
 
 
 
 
 
Biografia aqui redigida, segundo palavras do site: http://www.alfredomarceneiro.com/